Conheci Holloway no Rio de Janeiro em 1980, durante um belo workshop sobre Contos de fada e Script, desenvolvido junto com Sophia Caracushanski. Na sequência, tivemos bancas para certificação clínica pela ITAA. Minha banca era formada por Dina Frutuoso, Gudrum Menna Barreto e Bill Holloway. No início, quando Gudrum perguntou se ele queria que traduzisse minhas respostas, Bill disse ‘Não, obrigado. Vou observar a coerência da expressão não verbal, corporal’. Comecei por respirar profundamente e seguir em frente, depois desta declaração jamais esquecida ou minimizada por mim.
Naquele curso, sua linguagem não verbal era de uma certa estranheza um pouco inibida para com as manifestações afetivas dos brasileiros e encantamento curioso. Era perceptível em seu comportamento e ele declarou isto ao final. Naquela década ficou envolvido com grupos de formação e supervisão no Brasil. Enfim, naquele período de comunicações mais truncadas e lentas, fiquei sabendo, depois, que ele decidiu mudar-se definitivamente para o Brasil em 1988, por novos caminhos profissionais e de coração.
Um parágrafo sobre sua história na Análise Transacional, encontrado no blog (billholloway.wordpress.com/about-me).
Como médico, começou a oferecer psicoterapia em consultas fora do horário de atendimento médico enquanto estava no serviço militar em base aérea e era procurado por colegas em depressão. Depois de servir, fez residência psiquiátrica em Michigan e, através de James G. Miller, estudou as aplicações da Teoria Geral dos Sistemas de von Bertalanffy em relação aos sistemas biológicos. Desde então, seu pensamento clínico e sua teorização sempre tiveram como base o pensamento sistêmico. Com sua formação e este pensamento sistêmico, declarava que o relacionamento era mais importante que a teoria.
A partir de trabalhos com Bob Goulding, começou a estudar a Análise Transacional, fazendo seu primeiro 101 em 1970 e entrando para a ITAA em 1972. Era admirador da Análise Transacional e questionador de escritos de Eric Berne.
Foi presidente da ITAA e produziu o primeiro manual oficial de treinamento da ITAA, em 1978. Entre 1973 e 1977 apresentou workshops pelo mundo. Em 1976 foi convidado pelo Instituto Brasileiro de Análise Tansacional para ministrar um treinamento em São Paulo, iniciando, assim, sua história no Brasil.
Encontrei sua primeira publicação no Transactional Analysis Journal de abril de 1974, intitulada Além da Permissão, na qual questionava a importância da Transação da Permissão como decisiva para a cura, bem como trazia reflexões sobre o uso da palavra cura para referir-se a controle social e Autonomia. Sua premissa, neste artigo, era que cura pela Permissão é uma conquista limitada.
Em seu blog, o último artigo postado, intitulado Script de Vida ou Scripts da vida, em 2011 do qual destaco:
Uma das minhas conclusões, baseada no pensamento sistêmico e nas múltiplas estratégias que uma criança desenvolve, é que cada encontro com outro humano é iniciado com uma crença a priori sobre o OKness de si e do outro e termina com uma crença a posteriori que é reforço da crença inicial, ou uma alteração de crença em razão dos acontecimentos do encontro.
(HOLLLOWAY, 2011, blog referido)
Participou do X fórum brasileiro de Análise Transacional, em 2018, fazendo a Conferência de Abertura na qual mostrou, em minha percepção, um vasto e criterioso conhecimento da AT e suas diferenças com a teoria clássica sobre Script de Vida, além da desenvoltura e suavidade no contato.
Suas declarações no capítulo 11 do livro TA After Berne (Graham Barnes, ed, Harper’s College Press, 1977) evidenciam um pensamento profundo e articulado na reflexão sobre estrutura da personalidade, brindando-nos, através dos diagramas estruturais, com um convite ao questionamento sobre o território intrapsíquico. Sua sistematização sobre elaboração de Contratos, Válvulas de Escape relacionadas aos finais de Script citados por Berne, são contribuições valiosas deixadas por William Holloway, este homem ousado e sábio com o qual muitos brasileiros tiveram o privilégio de conviver.
Minha gratidão por conhece-lo e pelo convite para homenageá-lo no Opções.
Jane Pancinha Costa
Didata em Análise Transacional nas
áreas Psicoterapia e Ciências da Saúde |