No dia 27 de agosto é comemorado o dia do Psicólogo no Brasil.
Nessa mesma data, no ano de 1962, João Goulart, que era o Presidente da República na época, sancionou a Lei 4.119, que finalmente tornava a Psicologia, de direito, uma profissão. Isso só aconteceu graças a mobilização e determinação de diversos profissionais da área na época, que lutaram para que isso se tornasse realidade. A lei foi sancionada em 1962 e teve que esperar até janeiro de 1964 para ser regulamentada (Decreto 53.464). E apenas 7 anos depois, em 1971, foi criado formalmente o Conselho Federal de Psicologia (CFP). Enquanto profissão no Brasil, a Psicologia é bastante jovem.
Enquanto ciência e área do conhecimento, a história é outra. "A psicologia possui um longo passado, mas uma história curta". Com essa frase descreveu Hermann Ebbinghaus, um dos primeiros psicólogos experimentais, a situação da Psicologia - tanto em 1908, quando ele a escreveu, como hoje: desde a Antiguidade pensadores, filósofos e teólogos de várias regiões e culturas dedicaram-se a questões relativas à natureza humana - a percepção, a consciência, a loucura. Apesar de teorias "psicológicas" fazerem parte de muitas tradições orientais, a Psicologia enquanto ciência tem suas primeiras raízes nos filósofos gregos, mas só se separou da Filosofia no final do século XIX.
O primeiro laboratório psicológico foi fundado pelo fisiólogo alemão Wilhelm Wundt em 1879 tendo publicado seu livro "Principles of Physiological Psychology" em Leipzig, na Alemanha. Seu interesse se havia transferido do funcionamento do corpo humano para os processos mais elementares de percepção e a velocidade dos processos mentais mais simples. O seu laboratório formou a primeira geração de psicólogos. Alunos de Wundt propagaram a nova ciência e fundaram vários laboratórios similares pela Europa e os Estados Unidos. Wundt é creditado pela criação da Psicologia como um campo de investigação científica independente da Filosofia e Biologia. Mas uma outra perspectiva se delineava: o médico e filósofo americano William James propôs em seu livro "The Principles of Psychology (1890)" - para muitos a obra mais significativa da literatura psicológica - uma nova abordagem mais centrada na função da mente humana do que na sua estrutura. A mente consciente é, para ele, um constante fluxo, uma característica da mente em constante interação com o meio ambiente. Por isso sua atenção estava mais voltada para a função dos processos mentais conscientes. Na Psicologia, em seu entender, deveria haver espaço para as emoções, a vontade, os valores, as experiências religiosas e místicas - enfim, tudo o que faz cada ser humano único.
Sobre os ombros destes dois gigantes, todo o conhecimento e as práticas da Psicologia, tal como a conhecemos e exercemos hoje, se ergueu. As múltiplas escolas de formação de psicólogos, as abordagens ao sofrimento psíquico e as perspectivas de crescimento e cura foram se desenvolvendo, agregando novas perspectivas à medida que o conhecimento sobre o ser humano se expande.
E a nossa Análise Transacional, aonde se insere no cenário da Psicologia brasileira? Criada no final dos anos 50 nos EUA por um médico dissidente da Psicanálise, a AT surge dentro do movimento da Psicologia do Ego, um ramo da Psicanálise que estuda o Ego e suas funções. Ao mesmo tempo, por sua visão do ser humano como alguém destinado ao crescimento e evolução, se insere no movimento Humanista da Psicologia. E, por ser voltada ao estudo dos fenômenos sociais, por interessar-se pelos eventos transacionais, insere-se também na Psicologia Social.
Essa múltipla inserção permite ao analista transacional tanto o trabalho psicodinâmico da psicoterapia, quanto a aplicação da teoria e seus métodos em todo e qualquer campo onde as relações humanas são objeto de estudo e intervenção.
A Análise Transacional chegou ao Brasil nos anos 70. Um pouco depois da criação da profissão de Psicólogo aqui. Viveu um momento de descoberta e expansão e depois um período de decréscimo no interesse pela teoria. Não temos um reconhecimento dentro da Academia e nossa produção científica é bastante limitada. Produzir ciência requer a presença em Universidades e nosso ciclo não se completava até a UNAT-BRASIL formar parcerias com faculdades e criar as Especializações Latu Senso. Estamos caminhando na direção de produzir conhecimento e, quem sabe, realizar pesquisas que validem nossas práticas. Além disso, temos sustentado um movimento de formação de Analistas Transacionais, com grupos crescendo em várias áreas.
A Psicologia, e a Análise Transacional - como uma de suas múltiplas manifestações - segue evoluindo, em consonância com a sociedade e sua complexidade. Que sejamos capazes de manter o caminho, agradecendo à Eric Berne seu legado genial e a tantos psicólogos que estudam e praticam a AT em todo o mundo e a mantém viva e em expansão.
Márcia Bertuol – Membro Didata na área de Psicoterapia.
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