O psiquiatra americano Bill Holloway, convidado internacional do X Fórum Brasileiro de Análise Transacional, que acontece em setembro, no Rio de Janeiro, conversou com a analista transacional Silvana Maria de Jesus* para esta edição do Opções.
Sua palestra no Fórum no Rio se concentrará em quatro importantes conceitos da AT: Script, Autonomia, Contrato e a tríade Potência, Proteção, Permissão. Como os entende?
Script é um conceito metafórico apresentado por Eric Berne como uma forma de abordar o conceito psicanalítico de compulsão à repetição como um comportamento habitual. A Autonomia, no contexto da AT e dos adeptos das ideias de Berne, é uma condição a ser atingida quando uma pessoa se liberta dos controles do Script - seja por Permissão do terapeuta protetor ou pela liberação interna do Script. O conceito de Autonomia na AT é diferente do uso da palavra na consideração filosófica. Potência, Proteção e Permissão é uma tríade sugerida por Pat Crossman e adotada por Berne. Para Berne, a tríade foi considerada essencial para a liberação dos controles do Script. Entre os psicoterapeutas da AT, há controvérsias sobre o valor e a adequação da tríade. Contrato, conforme usado por analistas transacionais, significa uma abordagem com foco em um objetivo específico. Minha análise dos escritos de Berne sugere que o Contrato era essencial quando o objetivo do tratamento era "controle social". Em contraste, na análise do Script, não havia tal Contrato.
Qual a conexão entre o tema do Fórum (Ter ou Ser) e sua palestra (Teoria de AT - duas grandes divisões)?
Os verbos "ser" e "ter" indicam estados. Em contraste, "sendo" e "tendo" são flutuações, visíveis e dinâmicas – como Berne descreve a labilidade do Ego e as variações na Catexia. Então, a questão é: como as decisões iniciais do Script afetam a dinâmica de “ser” e “ter”?
Entre o senhor e a AT há um casamento fiel de quase 50 anos, certo? Como foi o seu primeiro contato e os melhores momentos?
Meu primeiro contato significativo com a AT foi em 1970 em discussões com meu bom amigo Bob Goulding. Bob me convidou para observar e avaliar um método psicoterapêutico que ele havia desenvolvido – a Terapia da Redecisão. Como resultado, comecei a estudar a AT. Em 1972, juntei-me à ITAA (Associação Internacional de Análise Transacional) e comecei a utilizar a AT na prática de psicoterapia em grupo. Na época, a característica mais valiosa era o “contrato de mudança”. Além disso, nesse ano, decidi estabelecer um programa educacional de AT, o Midwest Institute for Human Understanding, para ministrar o 101 e o 202. Como educador em psicoterapia e membro do corpo docente de duas universidades, a oportunidade, em 1973, de criar o primeiro manual de padrões de treinamento da ITAA foi desafiadora e gratificante.
No início de 1976, acompanhado por Jerry White, viajei pela primeira vez ao Brasil para fornecer a certificação da ITAA na área clínica a alguns membros em São Paulo. Sophia Caracushansky, presidente do Instituto Brasileiro de Análise Transacional, foi responsável pela organização. Nesse mesmo ano, surgiram os planos para um programa de treinamento contínuo. Como resultado, entre 1976 e 1986, viajei ao Brasil mais de 25 vezes para fornecer treinamento e supervisão – o que resultou na certificação de vários brasileiros como membros certificados da ITAA.
Além do trabalho em meu consultório particular de psiquiatria, foi muito gratificante ter tido a honra e o prazer de ministrar treinamentos no Brasil. Foi também uma honra e privilégio atuar como presidente da ITAA entre 1976-1978. Após a aposentadoria, em 1988, e minha mudança permanente para residência no Brasil, interrompi as atividades de ensino na AT.
Como são suas aplicações da AT na Psiquiatria?
Houve grandes mudanças na educação de psiquiatras. Quando entrei na área, em 1954, a teoria psicanalítica neofreudiana dominava a psicoterapia. Todos os psiquiatras foram treinados em teoria psicodinâmica. Com a introdução da medicação psicotrópica, em 1955, o treinamento psiquiátrico mudou para uma ênfase biológica. Mais tarde, como resultado dos avanços nas neurociências, o treinamento em psicoterapia diminuiu muito. Atualmente, poucos psiquiatras estão interessados em psicoterapia. Embora eu acredite que o conhecimento de AT seria bastante valioso, acho improvável que a maioria dos psiquiatras atuais tenha interesse.
Quais são suas impressões sobre a AT no Brasil e o trabalho que a Unat-Brasil tem feito? Poderia sugerir algumas ações que seriam importantes para disseminar a AT em nosso país?
Considerando que não tenho conhecimento direto das atividades da Unat, não posso responder a essas perguntas. Como observação geral, houve uma mudança cultural no Brasil e em outras nações ocidentais para uma maior iniciativa individual. Com acesso a informações abrangentes por meio da internet, as pessoas agora podem procurar por “soluções” para seus problemas. Sugiro que a única maneira de o público ter interesse em AT seria identificá-la como provedora de soluções específicas.
O que pode dizer para aqueles que estão em dúvida sobre participar do Fórum no Rio de Janeiro?
Participar do Fórum é uma oportunidade para os analistas transacionais de melhorar (ou ter) sua capacidade de facilitação e, consequentemente, a obtenção, por parte do cliente, de uma dinâmica mais harmoniosa de ser e ter.
* Silvana Maria de Jesus traduziu do inglês para o português esta entrevista |